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Frases Raul
"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal."
"Ninguém Tem o Direito De Me Julgar a Não Ser Eu Mesmo. Eu Me Pertenço e De Mim Faço o Que Bem Entender."
"Faça o Que Tu Queres, Pois Há De Ser Tudo Da LEI."

Biografia Raul Santos Seixas

Raul Santos Seixas

 Raul Seixas era baiano como Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Pitty e tantos outros... Cantor e compositor brasileiro, considerado um dos Pioneiros do Rock Brasileiro. Também foi produtor musical da CBS. É chamado de Pai Do Rock Brasileiro Maluco Beleza e Raulzito. Sua obra é composta por 21 discos lançados em 26 anos. Seu álbum de estreia foi Raulzito e Os Panteras em 1968, foi produzido quando estava no grupo, mas só obteve sucesso com Krig-há, Bandolo (1973), como Ouro De Tolo, Mosca Na Sopa, Metamorfose Ambulante.

 

INFÂNCIA

Raul nasceu às 8 da manhã em 28 de junho de 1945, em uma família de classe média, em Salvador. Seu pai Raul Varella Seixas era engenheiro e sua mãe, Maria Eugênia Santos Seixas se dedicava a atividades domésticas. No próximo mês ele foi registrado no Cartório de Registro Civil de Salvador com o nome do pai e do avô paterno. Em 16 de setembro do mesmo ano, batizaram-no na Igreja Matriz da Boa Viagem. Em 4 de dezembro de 1948 ganhou seu primeiro e único irmão, Plínio Santos Seixas. Com 14 anos fundou o Elvis Rock Club com o amigo Waldir Serrão. O Elvis Rock Club era como uma gangue, que procurava brigas nas ruas, fazia arruaça, roubava bugigangas e quebrava vidraças.  Embora Raul não gostasse muito disso, "ia na onda, pois o rock (pelo menos a meu ver) tinha toda uma maneira de ser". Então a família decidiu matricula-lo em um colégio de padres. Raul gostava muito de ler, e seu pai tinha uma vasta biblioteca. Mais tarde, já maduro, Raul Seixas diria: "Eu era um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo o que aprendia era nos livros, em casa ou na rua. Repeti cinco vezes a segunda série do ginásio. Nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la." De um modo ou de outro, Raul Seixas precisava frequentar a escola vez ou outra. Em uma determinada ocasião, o pai perguntou a Raul como ele ia na escola e pediu seu boletim. Raul mostrou um boletim falsificado, com todas as matérias resultando em um 10. O pai questionava se ele havia estudado, mas Maria Eugênia interrompia, dizendo algo como "Estudou nada, ficou aí ouvindo rock o tempo inteiro, essa porcaria desse béngue-béngue, de élvis préji, de líri ríchi e gritando essas maluquices." Os pais de Raul, como toda a geração da época, estranhavam o rock e ele não era muito bem-vindo entre as famílias. O maior sonho de Raul era ser escritor como Jorge Amado. Enquanto isso Raul junta-se a cena do Rock que se formava em Salvador. "Em 54/55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me atirava no chão imitando Little Richard”. (Lembrei-me nessa hora da música em que ele cita Little Richard, Rock’ N’ Roll).

 

OS PANTERAS

Com o passar do tempo a banda que chegou a ter diversos nomes, como Relampagos do Rock, formadas então pelos irmãos Délcio e Thildo Gama. Passa por várias formações e em 1963, passa a se chamar The Panters, banda que agora já se tornara sensação de Salvador. A fama se espalha, e a banda é rebatizada pelo nome Os Panteras. Em 1967 Raul Seixas começa um relacionamento com Edith Wisner, filha de um pastor protestante americano. O pai de Edith não aceita o namoro da filha. Em seis meses completa o segundo grau, faz cursinho pré-vestibular e passa em Direito, Psicologia e Filosofia. Com isso casa-se com Edith. Logo em seguida, abandona os estudos, volta a reunir Os Panteras e aceita o convite de Jerry Adriani para ir para o Rio de Janeiro. Em 1968, Raulzito e Os Panteras gravam seu primeiro e único Disco, Raulzito e Os Panteras. Assinando contrato com a gravadora Odeon, após encontrarem Chico Anysio e o rei Roberto Carlos, que os reconheceu nos corredores de uma grande gravadora. O Disco, no entanto não teria sucesso de critica nem de público. Eládio Gilbraz, um dos Panteras, diria: "De um lado havia a inexperiência de quatro rapazes, recém-chegados da Bahia, falando em qualidade musical, agnosticismo, mudança de conceitos e sonhos. Do outro lado, uma multinacional que só falava em "comercial". Talvez não tenha sido o disco que o grupo imaginara, mas nosso sonho era gravar um disco.  A partir daí, Raulzito e Os Panteras passariam sérias dificuldades no Rio de Janeiro. Raul morava em Ipanema, e ia a pé até o centro da cidade para tentar divulgar suas músicas, não obtendo sucesso. Algumas vezes os Panteras recebiam ajuda de Jerry Adriani, tocando como banda de apoio, o que, segundo o próprio Raul, lhe deu muita experiência e lhe ajudou a descobrir como se comunicar, pois suas "músicas eram muito herméticas". Em um tempo no Rio, Raul chegou a passar fome.

 

UM TEMPO DEPOIS

Raul Seixas estava totalmente abalado pelo fracasso com Os Panteras, e a sua volta a Salvador. Escrevia ele: "Passava o dia inteiro trancado no quarto lendo filosofia, só com uma luz bem fraquinha, o que acabou me estragando a vista [...] Eu comprei uma motocicleta e fazia loucuras pela rua.”. No entanto a sorte começaria a mudar, um dia, conhece na Bahia um diretor da CBS Discos. Mais tarde ele convidaria Raul para ser produtor da gravadora. Sem pensar duas vezes, ele faz as malas, junto a Edith, e volta para o Rio. Nos cadernos de composições de Raul começaria a ser alimentada uma revolução. Esta seria a segunda chance de Raul, apostando no talento do amigo, Jerry Adriani convence o então presidente da CBS, Evandro Ribeiro, a dar a Raulzito um emprego de produtor.

 Raulzito nessa época passa a ter um bom emprego de respeitado produtor, que conseguira lançar suas composições como Hits na voz de outros cantores e produzir grandes artistas. Mas Raulzito não se conformava apenas com isso, com o apoio de Sergio Sampaio, Raul passa cada vez mais a realimentar os sonhos de quando ainda morava em Salvador, que era ser um cantor. Ao lado de Leno, Raulzito participa do disco Vida e Obra de Johnny McCartney, disco solo de Leno, em que ambos buscam novos caminhos e experimentações. Juntos assinam letras e composições em parcerias. Foi o primeiro LP gravado em oito canais no Brasil. As letras do Disco foram censuradas, e o Disco não foi lançado na época. Outro projeto mal sucedido seria a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, onde Raul Seixas deu inicio a produção de um projeto de ópera-rock, tendo as letras mutiladas pela censura do Regime Militar. O Sociedade Grã Ordem Kavernista era um disco Anárquico. O Movimento, no entanto não dera certo.

 

AUGE DA CARREIRA (E A QUEDA)

No início dos anos 70, Raul decide participar do Festival Nacional Da Canção, convencido pelo amigo Sérgio Sampaio. Raul inscreve-se no Festival duas de suas músicas, Let Me Sing My Rock n Roll e Eu Sou Eu Nicuri É O Diabo. No ano de 73 Raul conseguiu um grande sucesso com a música "Ouro de Tolo" no álbum Krig-há Bandolo! (Falando nisso, Krig-ha Bandalo era uma espécie de grito de guerra do herói dos quadrinhos Tarzan, indicando que os inimigos estão chegando). Uma música com letra quase autobiográfica. O mesmo LP também continha outras músicas que se tornaram grandes sucessos, como: Metamorfose Ambulante, Mosca Na Sopa e Al Capone. Raul Seixas finalmente alcançou grande repercussão nacional como uma grande promessa de um novo compositor e cantor.

Em 1974, Raul foi preso e torturado no DOPS (o temível departamento de ordem pública do governo militar) por divulgar, juntamente com o amigo Paulo Coelho, a “Sociedade Alternativa”. De acordo com seus biógrafos e fãs, a tal Sociedade Alternativa (que nem Raul sabia explicar exatamente o que era), foi inspirada nas ideias do místico Aleister Crowley (Para quem não sabe, é o mesmo místico que inspirou o roqueiro Ozzy Osbourne na música Mr. Crowley). A propósito, Raul foi expulso do Brasil em 1974 justamente por causa da Sociedade Alternativa. Para os órgãos de repressão da Ditadura, ela era uma espécie de movimento contra o governo. As músicas Como Vovó Já Dizia foi recusada duas vezes pelos censores durante o Regime Militar.

Depois de torturados, Raul e Paulo foram exilados para os Estados Unidos onde Raul Seixas teria supostamente se encontrado com John Lennon. No entanto, o seu LP Gita gravado poucos meses antes faz tanto sucesso, que ambos voltaram ao Brasil. O álbum Gita rendeu a Raul um disco de ouro, após vender 600.000 cópias. Ainda neste ano, Raul separa-se de Edith, que vai para os  Estados Unidos com a filha do casal Simone (á propósito Raul teve cinco esposas: Edith Wisner, Glória Vaquer, Tânia Mena Barreto, Lena Coutinho e Kika Seixas). Em 65 Raul casa-se com Glória Vaquer, grava o LP Nova Aeon onde compôs uma de suas músicas mais conhecidas, Tente Outra Vez. O LP, porém, vendeu menos de 60 mil cópias. Em 76 Raul supera Raul supera a má-vendagem do disco anterior com o disco Há Dez Mil Anos Atrás. Neste mesmo ano, nasce sua segunda filha, Scarlet. Naquele final de década as coisas começaram a ficar ruins para Raul. A parceria com Paulo Coelho é desfeita. O cantor lança três discos, a partir de 77 que fizeram sucesso de público de desgosto na critica como: O Dia Em Que A Terra Parou que continha as músicas Maluco Beleza e Sapato 36, Mata Virgem a volta da parceria com Paulo Coelho em 78 e Por Quem Os Sinos Dobram em 79.

A partir do ano de 1978, começa a ter problemas de saúde devido ao consumo de Álcool que lhe causa a perda de 1/3 do pâncreas. Separa-se de Glória, que vai embora para os Estados Unidos levando a filha Scarlet Neste ano, conhece Tania Menna Barreto, com quem passa a viver. No ano de 1979, separa-se de Tania. Começa então a depressão de Raul Seixas junto com uma internação para tratar do Alcoolismo. Conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua quarta companheira.

 

Aleister Crowley

É dele a frase “Faze o que tu queres, pois é tudo da Lei” — a “lei” concebida por Crowley chamava-se Thelema, palavra grega que significa “vontade”. Segundo ele, os desejos humanos não deviam sofrer nenhum tipo de restrição. Considerado satanista por desdenhar as noções de bem e mal e louvar Deus e o Diabo na mesma proporção, Crowley fez a cabeça de várias bandas de rock famosas na época, como Iron Maiden e Led Zeppelin. E também dos Beatles.

 

UM TEMPO DEPOIS NOVAMENTE

Em 1980 assina novamente contrato com a CBS (desta vez como cantor) lançando mais um álbum Abre-te Sésamo, que contém outros sucessos e tem as faixas Rock Das Aranha e Aluga-se. Logo depois o contrato é rescindido. Em 1981 nasce a terceira filha, Vivian, fruto de seu casamento com Kika. Em 1982 faz um show na Praia do Gonzaga em Santos reunindo mais de 150 mil pessoas. Mergulhado na depressão, Raul afunda-se nas drogas. Porém em 83, Raul é convidado para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. Logo depois, Raul é convidado para gravar o especial infantil, Plunct Plact Zuuum da Rede Globo, onde canta a música Carimbador Maluco. O Álbum Raul Seixas que continha a canção, dá à Raul mais um disco de ouro. Em 84 grava o LP Metro Linha 743. Mas depois Raul teve as portas fechadas novamente, devido ao seu consumo excessivo de álcool e constantes internações para desintoxicação. Também em 1984 a Eldorado lança o disco  Ao Vivo – Único e Exclusivo.

Em 85 separa-se de Kika. Faz um show 1 de dezembro no Estádio Lauro Gomes em São Caetano do Sul. Só voltaria a pisar no palco no ano de 88, com Marcelo Nova. Conseguindo um contrato com a gravadora Copacabana em 86, grava um disco que foi lançado somente no ano seguinte, devido ao alcoolismo de Raul. O disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béim-Bum!  Faz grande sucesso entre os fãs, chegando a ganhar disco de ouro e estando presente até em programas de televisão, como o Fantástico.  Nesta época, conhece Lena Coutinho, que se torna sua companheira. A partir desse ano, estreita relações com Marcelo Nova. Um ano mais tarde, 88 já separado de Lena, faz seu último álbum solo A Pedra Do Gênesis.  A convite de Marcelo Nova, faz alguns shows em Salvador, após três anos sem pisar num palco.  Durante os shows, Raul mostra-se debilitado. Tanto que só participa de metade do show, a primeira metade é feita somente por Marcelo Nova.

 

MORTE

As 50 apresentações pelo Brasil resultaram naquele que seria o último disco lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi intitulado de A Panela Do Diabo, que foi lançado pela Warner Music Brasil, no dia 22 de agosto de 1989. Na manhã do dia 21 de agosto, Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama, por volta das oito horas da manhã em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada-cardíaca: seu alcoolismo agravado por ser diabético e por não ter tomado insulina no dia anterior, causou-lhe uma pancreatite aguda fulminante. O LP A Panela Do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo a Raul um disco de ouro póstumo, entregue a família e á Marcelo, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua carreira. Raul foi velado pelo resto do dia no Palácio Das Convenções Do Anhembi. No dia seguinte seu corpo foi levado por via aérea até Salvador e sepultado às 17 horas, no Cemitério Jardim da Saudade.

 

ALGUMAS CURIOSIDADES

 Alguns fãs, site e biógrafos de Raul contam que ele escreveu a música Metamorfose Ambulante aos 12 anos de idade.

Pode-se dizer que as primeiras influências musicais de Raul Seixas vieram com certeza da música nordestina, especialmente o baião e o repente.

Raul costumava ouvi-las nas viagens com o pai, que era inspetor de ferrovias.

Antes de desejar se tornar cantor, o maior sonho do menino Raul era ser escritor.

 Ele gostava de criar textos, poesias e histórias em quadrinhos.

O primeiro ídolo de Raul foi Luiz Gonzaga, o chamado Rei do Baião. Mas seu maior ídolo, o sujeito que influenciou sua vida para sempre, foi o Rei do Rock: Elvis Presley. Raul Seixas era “fã de carteirinha” de Elvis.

 Em 1982, Raul foi preso na cidade Caieiras, Grande São Paulo, sob a acusação de ser um impostor. Ele estava bêbado e não tinha documentos e, por isso, nem os fãs, nem a polícia acreditaram que ele fosse ele mesmo. 

 

Gloria 

 

“Fiquei muito impressionada com ele, que estava lendo um livro de filosofia. Seu inglês era perfeito, sua voz macia só falava de conceitos muito inteligentes” - Gloria Vaquer 

 

* Esse texto não foi escrito por mim. As informações contidas nele são de completo equivoco. Na verdade Raul Seixas foi casado oficialmente apenas duas vezes: com Edith Wisner e Gloria Vaquer. As outras foram apenas bucetas que ele pegou.

 

Raul foi casado cinco vezes, mas terminou seus dias praticamente sozinhos. No seu último LP, na música, Banquete de Lixo, ele disse: Muitas mulheres eu amei, e com tantas me casei. Mas agora é Raul Seixas que Raul vai encarar. E assim foi. Sem fazer maiores considerações sobre sua vida particular, tudo indica que era um sujeitinho abusado. Em Você Roubou Meu Videocassete ele disse: você quebrou a minha guitarra, pois eu a tocava mais que em você! Em Fazendo o que o Diabo gosta: Casamos num motel, bem longe do Altar... E assim por diante. Como grande anarquista, ele jamais estaria sujeito a esta instituição. Teve sua primeira filha com Edith Wisner.

 Suas duas primeiras mulheres eram americanas. Com a primeira ele compôs "Let me sing, let me sing”, já com a segunda, Glória Vaquer (irmã de seus guitarrista Jay Vaquer e também conhecida como Space Glow) ele compôs a belíssima Sunseed e a polêmica mas também muito bonita Love is Magick. Nesta época Raul estava de parceira com Paulo Coelho e Marcelo Motta, com que fez A Maça, Peixuxa e Novo Aeon. Foi um período de altíssimo questionamento e violentas pressões internas. Corria o ano de 1975. Em 76 nasceu sua segunda filha (com Glória). Termina sua parceria com Paulo Coelho e Marcelo Motta (que era o Chefe da Ordo Templi Orientis no Brasil). No ano seguinte, separou-se de Glória que voltou para os EUA com a filha Scarlet. Eu lutei, mas perdi a guerra. Eu só posso lhe dar meu nome.

 Raul iniciou seu relacionamento com a terceira mulher, Tânia Menna Barreto em 1978 e compôs com ela duas músicas que estão entre as melhores do seu repertório romântico: Mata Virgem e Pagando Brabo. Mas a mulher que conseguiu ficar mais tempo ao lado dele foi Ângela (Kika Seixas), aproximadamente de 1979 a 1984. Sua quarta mulher.

 Com Kika, a quarta esposa, ele compôs quatro músicas, das quais destacamos Geração da Luz, que muito nos emocionou, porque vimos ali uma despedida do Raul (É um testamento que deve ser ouvido junto com Banquete de Lixo, Rock`n`Roll e Cavalos Calados). As outras são a romântica Coisas do Coração, a irônica Quero Mais e a hilárica DDI. Kika hoje é uma das pessoas que trabalham na preservação e divulgação do trabalho de Raul Seixas. Para ela Raul compôs Angela, onde mostra o poder de sua veia lírica. Ao lado dela ele ganhou seu segundo disco de ouro e sua terceira filha, Vivian.

 Lena Coutinho, sua quinta e última mulher permaneceu ao lado dele nos tumultuados anos 85 a 88. Com Lena, Raul compôs Quando Acabar o Maluco Sou Eu, Não quero Mais andar na Contramão e A Pedra do Gênesis. Participou, também, de A Pedra do Gênesis uma pessoa que foi muito importante para Raul Seixas nesse período: José Roberto Abraão. Ao lado de Lena, Raul ganhou seu terceiro disco de ouro, em 1987.

 

KIKA SEIXAS – A GUARDIÃ DO BAÚ (FALA UM POUCO)

Kika Seixas, a única ex-mulher de Raul Seixas que mantém ligação direta com a obra do artista, revelou em entrevista feita em sua casa, no Rio, detalhes da vida a dois nesse casamento que durou cinco anos. Apontada por alguns inimigos como "aproveitadora" do legado do ex-marido, dá de ombros. Defende seu trabalho como fundamental para que a imagem de Raul se mantenha viva. Kika conheceu Raul com 27 anos, quando, segundo ela mesma, era "linda e maravilhosa" e mantinha um relacionamento com o então chefão da Warner no Brasil, André Midani. Largou-o por Raul, com quem acabou tendo uma filha, Vivian, hoje com 18 anos. Passados cinco anos, deixou-o também: "Ele começou a cheirar éter, aí foi demais". Atualmente casada com João Carlos de Paranaguá, produtor, com quem mantém excelente relacionamento, Kika não se esqueceu de Raul. "Ele foi e sempre continuará sendo importante para mim. Até por isso continuarei trabalhando pela sua obra."

A ingenuidade  

“Ele vivia 24 horas o artista Raul Seixas. Não tinha um distanciamento, o que até criava problemas. Dormia e acordava de botas e óculos escuros. Essa ingenuidade era um negócio muito genuíno dele, talvez até um pouco demais da conta. Os artistas atuais têm um distanciamento maior, acho que foi aí que ele se perdeu...”.

A Sociedade Alternativa

"Gozado, não sei se o Raul tinha dimensão do que era isso. Ele era apolítico, então, sinceramente, não sei o que pretendia com isso, acho que era só um sonho. Até hoje, pessoas me perguntam isso, o que é a Cidade das Estrelas, se ela existiu. Acho que a Sociedade Alternativa ficou sendo mais uma pessoa, mais um ponto de vista do público dele do que dele mesmo. Eu me lembro que uma vez magoei muito o Raul, quando disse: 'Isso aí é um papo completamente impossível, que Sociedade Alternativa é essa, cara? Como é que você quer criar algo, em que bases, o que é isso, que palhaçada é essa? Sociedade Alternativa porra nenhuma, você não é capaz de gerir a sua própria vida, a sua família'. Ele ficou arrasado naquele dia, deprimido."

Últimos momentos  

“Ele morreu cheirando e bebendo. No último fim de semana tinha cheirado e bebido e, como nos finais de semana a empregada não ficava em casa, e era ela quem o pressionava para tomar as injeções de insulina, não resistiu. Cara, o Raul detestava aquelas injeções de insulina. Não há nada menos rock'n'roll que o cara ter de se medicar, entendeu? Raul detestava isso e a empregada, a Dalva, enchia tanto o saco dele que ele acabava se aplicando. Foi opção dele, entendeu? Inclusive o Marcelo Nova, no final, montou um esquema de segurança para proteger o Raul e ele detestava aquilo. Dizia: 'Poxa, você viu os seguranças, os trogloditas que estão lá fora, uns caras agressivos pra caramba!' Mas era tudo para não deixar ninguém chegar perto do Raul e dar cocaína ou bebida pra ele, mas ele ficava arrasado. Era aquilo que ele queria. O fim da vida de Raul foi uma tragédia. Raul estava feio, gordo, não tomava mais banho, não andava, se arrastava, não cantava mais, estava sem dentes. Olha, no final da vida, na intimidade, eu vou te contar, ele me chamava para dormir e eu ia lá, o Raul fazia xixi nas calças, o álcool já tinha consumido tudo. Ele não comia, era uma tragédia, eu olhava para a vida de Raul e, de certa forma, dei graças a Deus por ele ter morrido, eu não sei o que seria a vida dele se estivesse vivo."

O público e a imprensa

"Quando faço o Baú do Raul (show promovido por ela) é óbvio e lógico que vem um monte de coroas e tal, mas quem mais vem é a garotada. E ainda tem um pessoal que 'recebe' uns santos e diz que eu estou incomodando a alma do Raul. Que ele precisa descansar, que preciso parar de fazer shows etc. agora mesmo me mandaram um livro que fala do roqueiro do além. É um escândalo, bicho. O cara não diz que é o Raul, mas dá a entender que é o Raul. Mas não é, porra nenhuma, não tem Raul nenhum ali, é uma coisa estranhíssima. O tal do roqueiro do além não tem nada a ver com o Raul. O verdadeiro Raul tá adorando tudo isso que a gente faz... Quem criou o mito foi o público, o povo. Eles que trouxeram o Raul de volta, porque os jornalistas, a mídia, estava meio assim porque ele tinha criado uma tarja de inconsequente, alcoólatra, viciado, irresponsável e, quando ele morreu, a mídia preferiu ignorá-lo, como já vinha fazendo no fim da vida dele e, mesmo assim, vendia as 100.000 cópias dele. Mas eles tiveram de dar a mão à palmatória até porque no enterro, na Bahia, eram 5.000 pessoas, uma loucura. Uma hora o caixão fugiu, foi indo embora e aí dona Maria Eugênia falou: 'Deixe, deixe que levem o meu filho, eles que enterrem meu filho'. Quando fomos ver, o caixão já estava duzentos metros à frente, sendo enterrado pelo povo, pelo público dele (É de chorar nessa parte – dito por Jack). Em São Paulo, foi a mesma coisa. O público só deixou o funeral sair quando veio o corpo de bombeiros.

Encontro com John Lennon

 “Essas histórias são fantasias, fantasias."

Sempre ligado

"Ele sempre bebeu. Dizia que desde os doze anos tomava uns porres em um lugar chamado Cantinho da Música. Ele sempre teve muita dificuldade de conviver com a realidade, ficava sempre deprimido, tomava Diempax e outras bolas. A realidade para ele era demais, demais mesmo. Ele também deixava todas as luzes da casa acesas porque tinha horror a dormir. Estava sempre ligado, bicho. Achava perda de tempo dormir. Dormia demais quando estava deprimido, podia passar o dia inteiro dormindo, entendeu? Mas dormia pouco. Tipo, quando dormia à meia-noite, às 4 da manhã estava feliz da vida, acordado. Aí, pegava a Vivian e trazia para eu dar de mamar. Estava sempre acordado."

A relação com Paulo Coelho "Eu vivi seis anos com o Raul, ele sentia falta, digamos assim, daquele período de criatividade intensa, o Paulo é um homem inteligente, mas o Raul fez questão de criar um distanciamento mesmo do Paulo, eu não sei por que e também não gosto muito de falar sobre isso, acho que isso acaba virando fofoca."

As drogas

 “Ninguém consegue viver com o álcool e as drogas o dia inteiro e depois, à noite, ir fazer show ou gravar um disco. Quando ele ia gravar, às vezes ficávamos um mês no estúdio. Ele se trancafiava cheirando cocaína durante cinco dias seguidos e no sexto, sétimo dia ia para o estúdio. Qual é o ser humano que consegue isso? E o fato é que realmente saíam obras-primas, saiu Gita, Aluga-se, saíram todas, mas no sétimo dia, bicho, alguma coisa ia ficar ruim, ou o pâncreas dele ia pras cucuias, como foi. Mas tudo por conta da arte, nunca vi o Raul cheirando ou bebendo para bater um papinho ou ficar doidão, não, o negócio era compor que nem um louco..."

O Rock das 'Aranha'

"Estávamos em Miguel Pereira com o Cláudio Roberto (um dos mais importantes parceiros de Raul). Estava, ele, a Ângela, mulher de Cláudio, e nós. Fomos passar o fim de semana com eles, coisa de amigo mesmo. Mas bastava se encontrarem que os caras compunham. Nesse final de semana, eles fizeram Ângela, obra-prima, para mim e para a Ângela, porque eram duas Ângelas. Fomos dormir e no dia seguinte, quando eu e Ângela acordamos, tinha o Rock das 'Aranha' pronto. A Ângela, caretérrima, achou um horror a música. Eu de cara achei genial. Foi assim a história."

O lado machão

 “O Raul tinha horror a lésbica, tinha horror a viado, nesse sentido era a pessoa mais careta que eu vi na vida. Boiola não podia nem chegar perto, o Raul ficava incomodado, saía da sala, ficava piscando, fazendo trejeitos. Por isso digo que o Rock das 'Aranha' foi pura sacanagem, só. Por isso, essa fofoca que rolou por conta de o Paulo Coelho ter dito que tentou transar com outro homem duas vezes não tem nada com o Raul. Isso é sacanagem. É foda, cara: até o João, meu marido, me acordou quando saiu essa matéria, dizendo: 'Kika, o Raul era viado, tá escrito'. Eu disse: 'Não fala bobeira, João. Ele era porreta'. 'É viado, é viado, tá escrito aqui!', ele insistiu. Mas eu garanto, não foi com ele que o Paulo teve essa relação."

A dependência química  “Ele acordava cedo, ia para o bar e tomava vodca com Coca-Cola. Isso às 9 horas da manhã ficava um pouco no bar, e quando dava 11 horas voltava para casa, tomava o café tradicional, depois ia para o bar novamente beliscar uma língua ou carne assada. Voltava ao meio-dia, ouvia som e caía duro na cama. À tarde precisava de alguma coisa na agenda para fazer, para preencher o dia, senão descambava, mas para levantar tinha de ter o combustível."

As parcerias

 “Eu não sou burra, bicho, sou uma mulher inteligente. De repente, o Raul dizia 'vamos compor' e eu topava. Ele dava uma palavra, eu outra, e aí rolava a frase. Mas, muitas vezes deixei de botar o meu nome em parcerias porque achava que ficaria ruim para o Raul ter mais de uma parceria, deixei de ganhar dinheiro. Se tivesse colocado, hoje teria direito aos direitos autorais. Achei que ficaria melhor para a imagem dele. Aluga-se é minha, Abre-te Sésamo é minha, Só pra Variar é minha; eu estava lá nesses momentos. Mas achava que não devia deixar o público saber que foi feito por outra pessoa, mais uma mulher, mais um parceiro. Achava que tinha de preservar o Raul, bicho... eu amo o Raul. Ele até me falava: 'Kika, a gente tá deixando de ganhar dinheiro. Se você diz que a música é só minha e de outro cara, a gente ganha metade e metade. Se você disser que a música é de Raul, Kika e o outro, vai ficar um terço pra cada um'."

Os direitos autorais

 “Hoje ele rende U$ 120.000,00, cara, 120.000 dólares para as herdeiras por ano. Quando peguei para tocar, elas só recebiam 50.000 dólares, por isso acho que ajudei bastante. O Raul é a terceira maior execução do Brasil. Desde botecos até os shows. É, bicho, depois que comecei a assumir esse trabalho gratuito, de gerenciar o trabalho do Raul, as coisas começaram a ser pagas direitinho. E isso não reverte nada para a minha firma, nenhum tostão, só a minha filha que recebe. E eu quero receber, sim, 5, 10 ou 15 porcento como agenciadora disso. As outras filhas dele não sabem nada do que acontece, os advogados delas não sabem nada, só recebem. Só recolhem o que é depositado. Por isso vou entrar na Justiça pedindo o que é meu de direito. Isso só acontece porque as herdeiras não estão sabendo o que está ocorrendo, porque os advogados não têm interesse de passar para elas que existe uma pessoa que trabalha e que vive Raul, e que trabalha para o nome Raul, senão a percentagem deles ia ser provavelmente diminuída. Se tem uma pessoa que realmente trabalha Raul Seixas, divulga, então por que os advogados ganham 9 porcento? Como eles não querem diminuir essa soma, então fui para a Justiça, estou botando todo mundo na Justiça, inclusive minha filha."

Material inédito

 “Sim, tenho, sem dúvida, porque compro coisas quando sei que são inéditas, porque quero deixar coisas para a minha filha poder ter algum retorno no futuro. Por isso não fiz um CD-ROM nem um filme. Estou guardando isso para a Vivi (Vivian)."

Frágil e forte  “Ele era extremamente frágil, de um lado, e corajoso, do outro. Ficou quatro meses entubado no hospital Albert Einstein e nunca vi esse homem reclamar. Nem dar um ai. Ele não comia, só tomava injeção. Quatro meses deitado numa cama. É isso que eu digo, nessas horas ele era uma força gigantesca. Passou dois anos sem gravar e nunca vi Raul dizendo: 'que merda a minha vida'. Ele foi uma fortaleza até mesmo no final da vida. Mesmo do jeito que ele estava teve coragem de tentar me seduzir. Precisa ser muito homem pra fazer isso na situação em que ele já se encontrava."